terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Refutada alegação de vida alienígena em meteorito

Repercutiu em inúmeros sites e fóruns a notícia acerca da alegada descoberta de fósseis de seres extraterrestres microscópicos em um meteorito. A suposta rocha espacial teria sido encontrada após uma chuva de meteoros no Sri Lanka em dezembro de 2012, e um artigo com a análise foi publicado no The Journal of Cosmology.

O autor principal do artigo é o cientista N. C. Wickramasinghe, famoso por ser o principal defensor da hipótese da panspermia. Resumidamente, esta defende que a vida surgiu em outro corpo celeste e chegou à Terra a bordo de meteoritos ou cometas. A comunidade científica, apesar de algumas reservas, defende a possibilidade de os blocos de construção da vida terem sido trazidos para nosso planeta há bilhões de anos por impactos cósmicos. Porém, as controvertidas idéias de Wickramasinghe, de que novos vírus da gripe chegam do espaço, entre outras, encontram pouco eco entre os cientistas.

Os alegados organismos unicelulares alienígenas do meteorito são descritos no artigo como semelhantes a diatomáceas, algas unicelulares microscópicas que possuem capas envolventes formadas por sílica. O conhecido astrônomo Phil Plait, criador do blog Bad Astronomy e apresentador da série Bad Universe do Discovery Channel, examinou as alegações do artigo e encontrou sérios problemas no texto. Chama a atenção em primeiro lugar o aspecto muito bem conservado das diatomáceas, e quando ele consultou Patrick Kociolek, professor de ecologia e biologia evolucionária da Universidade do Colorado, este confirmou que os microorganismos apontados no artigo são de fato diatomáceas.

Contudo, rigorosamente todas elas são espécies muito comuns na Terra de hoje, e não existe seguer um exemplar apontado no artigo de Wickrhamasinghe que esteja extinto. Kociolek afirmou que de fato as amostras estão em excelente estado de conservação, não possuindo qualquer sinal de que se trata de material fossilizado. O biólogo aponta uma alegação do texto, de que diatomáceas não estão presentes em terra firme para contaminar meteoritos, porém essas espécies habitam a água. A primeira conclusão é que os alegados alienígenas do meteorito são todos espécies conhecidas na Terra.

Plait aponta que Wickramasinghe e seu grupo não consultaram especialistas em biologia e no campo de meteoritos fora de seu grupo, contrariando um dos postulados mais básicos de uma pesquisa científica séria. Mas o astrõnomo vai mais além, apontando que o artigo do The Journal of Cosmology sequer documenta como foi a descoberta e o recolhimento do meteorito, ou seja, não existe qualquer prova de que tudo foi feito para evitar a mais que evidente contaminação no material.

Contudo, o caso fica ainda pior quando Plait comenta a única imagem do suposto meteorito, que o artigo alega ser um condrito carbonáceo. Em seu site o astrônomo apresenta a imagem do suposto meteoritodo Sri Lanka e fotos de autênticos condritos carbonáceos. O fato de serem totalmente diferentes mostra que provavelmente o alegado meteorito não passa de uma rocha comum, provavelmente recolhida de um leito de rio, o que explica a presença das diatomáceas.

O caso aponta para a necessidade de acreditar de muitos, o que faz com que notícias como essa se espalhem com rapidez pela Internet. A maioria absoluta dos cientistas e astrônomos defende que existe vida extraterrestre, e como mencionado admite a possibilidade até mesmo que a a vida pode ter começado em Marte antes que na Terra, e migrado para nosso planeta. Contudo, essa hipótese espetacular necessita de provas para ser admitida. Lembramos até mesmo de um estudo brasileiro realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro acerca da possibilidade de microrganismos sobreviverem aos rigores de uma viagem espacial a bordo de asteróides. Mas, como sempre, todo cuidado continua sendo pouco diante de notícias com enfoque sensacionalista, como lamentavelmente foi o caso do artigo no The Journal of Cosmology.

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